FAO – agência das Nações Unidas, apresenta estudo sobre genética florestal e põe o planeta em alerta
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
As florestas são berçários e baluartes para a biodiversidade.
Elas são importantes para a manutenção dos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.
As florestas contribuem decisivamente para a estabilização microclimática – rural e urbana pois, além da função paisagística, a arborização proporciona proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação da fauna, absorção da poluição atmosférica, neutralização de efeitos nocivos à atmosfera por emissões que a perturbem, valorização da propriedade pela beleza cênica, higienização mental e reorientação de correntes aéreas.
Os crescentes impactos ocasionados pela ação humana têm, no entanto, fragmentado as florestas. Essa fragmentação introduz uma série de fatores que interferem na evolução da fauna e flora, alteram parâmetros demográficos das mais variadas espécies e a estrutura dinâmica dos ecossistemas. No caso das árvores que a compõe cada fragmento, a alteração provocada pela ação humana afeta polinizadores, dispersores, predadores e vetores de doenças naturais, alterando a acumulação de espécimes vegetais, propiciando o surgimento de incêndios e mudanças microclimáticas, as quais atingem sistematicamente as bordas dos fragmentos.
A riqueza produzida pelas florestas, seus bens e benefícios essenciais e a necessidade de sua preservação, fizeram com que a FAO – Agência da ONU para Agricultura e Alimentação, realizasse um ousado estudo sobre a diversidade genética das florestas.
A primeira publicação desse estudo ocorreu neste mês de junho de 2014 e trouxe informações preocupantes para a área florestal.
A metade das espécies de árvores nativas em todo o mundo está ameaçada. Essa degradação ocorre pela conversão dos fragmentos florestais em pastos, pela exploração agrícola intensiva e pela urbanização – que produzem impactos no clima e, assim, realimentam o ciclo de degradação.
Há em nosso planeta, hoje, 8 mil espécies e subespécies já consideradas em risco de extinção.
O estudo sobre a diversidade genética florestal, ao divulgar dados relevantes como os acima, propicia ao ser humano implantar medidas para proteger o processo de adaptação das florestas às mudanças causadas pelo clima.
Pragas e doenças naturais que acometem espécimes florestais, também tornaram-se importantes para a economia desses ecossitemas, merecendo proteção tanto quanto a manutenção da produtividade e valor nutricional de vegetais, mel, frutas, nozes e cogumelos.
De fato, a floresta deveria entendida como uma atividade econômica, comparável a culturas agrícolas intensivas. A diferença é a produção de biomassa resultante. Há funcionalidade e até mesmo lucro se respeitado esse entendimento.
O estudo da FAO revela que, apesar de haver no mundo entre 80 mil e 100 mil tipos de árvores, somente 1% das espécies participam de programas econômicos de seleção ou de melhoria genética, com a meta de melhorar sua produção e adaptação.
O estudo da agência foi, portanto, focado em 8 mil espécies de árvores, arbustos, palmeiras e bambus, que são os mais utilizados pelo homem (apenas 3% delas são gerenciadas de forma ativa).
No manejo da diversidade genética e adaptação, o relatório aponta quais pré-requisitos devem ser considerados, tais como: o tamanho das frutas, a rapidez de crescimento, composição dos óleos e proporção da polpa.
A FAO conclui o estudo solicitando aos governos nacionais, medidas urgentes para melhorar a gestão das florestas e garantir seus benefícios a longo prazo. Constatou-se que as florestas estão encolhendo de forma crescente e rapidamente – daí a importância da ONU dispor-se a ajudar os governos na conservação e no uso sustentável dos recursos florestais.
Segundo o estudo, os dez países que perderam mais cobertura florestal entre 1990 e 2012 foram Brasil, Indonésia, Nigéria, Tanzânia, Zimbábue, República Democrática do Congo, Birmânia, Bolívia, Venezuela e Austrália
As Nações Unidas entendem urgente aprimorar o manejo da diversidade genética das florestas. Também torna-se urgente o desenvolvimento de programas nacionais de sementes para garantir a disponibilidade de mudas arbóreas geneticamente apropriadas, programas de conscientização sobre a importância da biodiversidade e de combate a espécies invasivas.
Um exemplo da importância do estudo sobre genética florestal, é a ocorrência da “morte” em massa do Guapuruvu, árvore nativa da Mata Atlântica que tem preocupado autoridades ambientais e de segurança na região de São Sebastião – litoral norte paulista.
Os especialistas não sabem ainda o motivo das mortes das árvores dessa espécie e trabalham com duas hipóteses: o excesso de chuva em 2013 (que pode ter favorecido a presença de parasitas), e a possível invasão de espécie exótica – inseto ou fungo, proveniente dos navios que aportam nos terminais portuários da região (Portos de Santos, Guarujá e São Sebastião).
Apesar dos esforços em descobrir o motivo da mortandade de guapuruvus, os órgãos responsáveis sabem que estão lidando com algo novo, sem qualquer certeza científica. As autoridades estão em alerta, seriamente preocupadas com os estragos ambientais sinérgicos que já se apresentam com a proliferação da doença na região de Mata Atlântica, a partir do litoral norte de São Paulo.
Outro exemplo da importância do estudo genético da biodiversidade, é a descoberta que a seriguela e o umbuzeiro, árvores comuns do Semiárido nordestino, e a sucupira-preta do Cerrado, fazem parte de um grupo de plantas brasileiras que poderão desempenhar papel importante para a agricultura no enfrentamento das consequências das mudanças climáticas.
Conforme estudo do genoma dessas espécies, foi constatada grande capacidade adaptativa, tolerância à escassez hídrica e a temperaturas elevadas que podem ajudar a tornar culturas como soja, milho, arroz e feijão tão resistentes quanto aquelas, face aos inevitáveis extremos climáticos que advirão.
O estudo global da FAO em diversidade genética florestal é importante para o conhecimento das espécies, suas fragilidades, sua reprodução e desenvolvimento. Uma ferramenta útil no direcionamento dos recursos e investimentos governamentais.
Pesquisas como a apresentada pela agência da ONU tornam-se importantíssimas para que autoridades, investidores e cidadãos enxerguem a importância dos biomas e fragmentos florestais, invistam em pesquisas, promovam a preservação e lutem pela sobrevivência das florestas em todo o planeta.
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